10 de mai. de 2014

AFETO PENDENTE


          Na época em que eu comecei a lecionar, logo após o meu estágio, eu fui intolerante e não tive paciência com uma de minhas alunas, que na época estava com uns 13 anos.  Mas essa menina não foi a única vítima: eu também fui vítima de mim mesma, pois os anos foram passando, mas a culpa de não ter sido compreensiva ou dada a devida atenção a essa adolescente continuou me acompanhando.
            Mas o fato interessante e que, de certa forma deu fim ou aliviou essa minha culpa, aconteceu há poucos dias quando eu fui dar uma palestra sobre educação. Por incrível coincidência essa adolescente, que agora é uma mulher, estava lá na platéia me ouvindo. E me reconheceu.
            Ela veio falar comigo se mostrando feliz em me ver. Falou comigo com muito carinho e admiração. Eu a reconheci imediatamente, também. E recebi esse carinho dela como uma mistura de ternura, alívio e a sensação de que eu não era merecedora disso.
            Como já estava próximo do almoço eu a convidei para almoçarmos juntas num restaurante perto dali. Ela aceitou e parecia fascinada com tudo o que estava acontecendo. Quase ao final de nosso almoço ela olhou pra mim e disse que queria me fazer uma pergunta sobre a época em que ela havia sido minha aluna. E com os olhos levemente umedecidos questionou: “professora, eu sei que eu sempre fui meio abusada, meio respondona, mas no fundo o que eu queria era ser também admirada por ti. Tu sempre foste meio dura comigo, mas parecia que se importava mesmo assim. Eu sempre fiquei com isso na cabeça, pensando se eu era amada ou tolerada...” Nessa hora seus olhos se enchem de lágrimas e os meus também.
            O que seguiu foi um afetuoso abraço entre nós e meus pedidos de desculpas a ela, confessando que a culpa por isso também não saía da minha cabeça. Nesse momento todo o amor, toda a admiração e carinho que estavam pendentes entre nós veio à tona.
            Eu fui tão admirada por essa aluna e não soube perceber. Mas em meu inconsciente eu devia saber disso sim, visto a culpa que carregava. Hoje somos grandes amigas e nos falamos regularmente.
            Muito bom viver um final (ou começo) feliz!

(Da série: "aconteceu ou poderia ter acontecido")


2 comentários:

  1. Comovente história. Educação e afeto andando juntos
    Parabéns e felicidades em tua profissão!
    Beijos - Ana Maria Furtado (Castelinho)

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  2. Linda história e reencontro com final feliz!
    Amo teus escritos e tuas reflxões!
    Bjsssssss

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