20 de jan. de 2010

Um pouco sobre Psicopedagogia


Rejane Silva Bruck




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O surgimento da psicopedagogia no Brasil



No Brasil, a psicopedagogia tem aproximadamente 30 anos, e embora com um corpo teórico próprio, precisa ainda de muita pesquisa devido à complexidade do seu objeto de estudo, como afirma Bossa.
            Segundo BOSSA, (2007), a Psicopedagogia surgiu da necessidade de buscar uma solução para os problemas de aprendizagem. Dessa forma estuda os diferentes fatores que entram em jogo no aprender, ou seja, o psicopedagogo estuda como os outros e como ele próprio aprende.
Segundo Fernández (1991) para aprender precisamos por em jogo o nível orgânico, o corporal, o intelectual e o simbólico, estando esses quatro elementos interligados. A psicopedagogia estuda  cada um desses elementos e sua relação com o ato de aprender.

“Uma pioneira na construção da postura psicopedagógica clínica na América Latina foi Sara Paín, pois ela percebeu que o problema de aprendizagem oferece um terreno privilegiado para estudar as relações entre a dimensão cognitiva, objetivante, lógica e a dimensão  simbólica, subjetivante, dramática.”(FERNÁNDEZ, 2001)

            Nascemos com um organismo e a partir dele construímos nosso corpo que por sua vez, apropria-se desse organismo de forma que toda a aprendizagem passe por esse corpo. A inteligência está relacionada à cognição, ao nível lógico, ao consciente, enquanto que o desejo refere-se ao simbólico, aos afetos, ao inconsciente, é mais individual.

A psicopedagogia e as várias áreas do conhecimento cientifico


Segundo Bossa (2007) conhecimentos  específicos de diversas  áreas são importantes ao psicopedagogo, como o da psicanálise, da psicologia social, da epistemologia e psicologia genética, a linguística a pedagogia  e os fundamentos na neuropsicologia. Conhecimentos esses que ajudam o psicopedagogo a refletir cientificamente sobre seu campo de atuação.
Conhecimentos gerais sobre a psicanálise, ajudará a entender as formas inconscientes que geram um sintoma de não aprendizagem.

“segundo o criador da psicanálise, o inconsciente não se manifesta de forma direta, nem se pode circunscrevê-lo ou delimitá-lo, mas aparece através de fraturas: o chiste, o lapso, o ato falho, o sonho e o sintoma... “Como ciência do inconsciente, portanto, a psicanálise permite  a compreensão do sintoma enquanto problema de aprendizagem, percebendo-o como uma manifestação humana carregada de significado.” (Bossa, 2007 p.28)

            Da psicologia social, entender a constituição e a influência da famílias, dos grupos sociais e o papel que o aprendiz tem dentro desses contextos. A psicologia genética, por sua vez, irá analisar o processo de construção do conhecimento. A linguística é importante para entender o processo de construção da linguagem, seja ela a língua como um código ou a fala que é a expressão oral dessa língua e a caracterizar a cultura de um determinado grupo. A pedagogia traz informações sobre as diferentes técnicas e abordagens de ensino e de aprendizagem; e os fundamentos da neurologia, ajudará a compreender o funcionamento do cérebro, pois a imaginação, a memória, o medo são, entre muitos outros, temas abordados também na psicopedagogia, pois influenciam no processo de aprendizagem.

O objeto de estudo da psicopedagogia

            O Objeto de estudo da psicopedagogia, gira em torno da construção do conhecimento,  do processo de aprendizagem do ser humano e a influência que ele sofre nas diversas  relações interpessoais. Estuda o processo que envolve o aprender e as dificuldades encontradas e tendo como referencial teórico as diversas áreas do conhecimento, como a psicanálise, a neurologia, a pedagogia e muitas outras,  procurando dessa forma entender o porquê, o significado desse não aprender para, a partir daí, estabelecer estratégias de intervenção.
Os psicopedagogos  são profissionais que atuam prevenindo, diagnosticando e tratando os problemas de aprendizagem. Os diagnósticos, na maioria das vezes é feito através de jogos, de desenhos, de brinquedos, entre outros, que identificam as possíveis causas dessas dificuldades.

Atuação do psicopedagogo

            O psicopedagogo pode atuar, entre outros,  em  escolas (psicopedagogia institucional) e em clínicas (psicopedagogia clínica)
Na Clínica, o psicopedagogo trabalhará através de um  diagnóstico que irá identificar as possíveis causas dos problemas de aprendizagem. Ele utilizará para isso, instrumentos como provas operatórias (Piaget), provas projetivas (desenhos), EOCA, anamnese. Antes fará uma entrevista inicial com os pais ou responsável para tratar de questões como horários, número de sessões semanais, honorários e outras questões.
Na Instituição escolar o psicopedagogo trabalhará auxiliando professores através de elaborações de planos de aula e projetos pedagógicos, bem como orientando a melhor forma de ajudar alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem. Também é função do Psicopedagogo Institucional, prevenir e/ou verificar problemas de ensino ou aprendizagem.

Objetivo da psicopedagogia e intervenções
O objetivo maior da psicopedagogia  é formar pessoas autônomas, capazes de pensar e refletir a partir de sua própria convicção, a de formar autores de seus pensamentos.
            Para Clara Feldman de Miranda (1999 p.36) o paciente não é nem melhor e nem pior que qualquer outra  pessoa, apenas lhe falta habilidades de vida e que, portanto, precisa de ajuda. Essa ajuda que é dada pelo profissional, em nosso caso o psicopedagogo, é a soma de três características que ele deve ter. São elas: disponibilidade + amor + habilidades.  Segundo a autora essas habilidades interpessoais não são inatas, mas podem ser aprendidas seja de forma sistemática (cursos, por exemplo) ou informal (através da identificação, da imitação de modelos, etc.). O que diferencia o paciente do profissional, entre outras características, é claro, não é o fato desse profissional não ter problemas mas sim a  de ter a habilidade de saber lidar com eles.
            Ainda segundo Miranda, há um conjunto de habilidades interpessoais necessárias ao terapeuta, podendo essas habilidades serem transferidas ao psicopedagogo, com toda certeza. Entre essas habilidades estão:
a)     Prepara o ambiente físico em que vai receber o ajudado, pois ficará implícito, nesse ato, a preocupação com o paciente. Esse preparo pode incluir desde a decoração da sala até a limpeza e o cuidado com a privacidade.
b)     Acolher é transmitir receptividade, para que o paciente sinta-se valorizado, respeitado. Pode demonstrar isso pronunciando seu nome, olhando em seus olhos, individualizando-o.
c)      Atender é transmitir mensagens corporais de interesse, de disponibilidade. Aproximando-se , ficando de frente, concentrando-se, assentando com a cabeça, entre muitas outra atitudes que fará o paciente sentir-se envolvido no processo de ajuda.
d)     Observar é captar as mensagens não verbais transmitidas pelo paciente. Olhando sua aparência,  seu comportamento e também inferir. Essa inferência só será dada como verdade após confirmado pelo paciente.       Quanto a esse fato Miranda (1999 p.93) diz:

“Acima de tudo, o ajudador deve ser humilde para admitir que não é o dono da verdade de ninguém e que só o ajudado sabe de si. Quando o ajudador decide checar suas inferências com o ajudado, este pode confirmá-las ou negá-las.”

e)     Escutar é captar as mensagens não verbais. Ficando calado e não interrompendo; evitando distrações e não fazendo julgamentos. Dessa forma o ajudado dirá tudo o que é importante para si.
Sobre esse assunto Fernández (1991- p.131) afirma:

“A intervenção do psicopedagogo no primeiro momento da relação com o paciente, supõe escutar-olhar e nada mais. Escutar não é sinônimo de em silêncio, como olhar não é de ter os olhos abertos. Escutar, receber, aceitar, abrir-se, permitir, impregnar-se. Olhar, seguir, procurar, incluir-se, interessar-se, acompanhar. O escutar e o olhar do terapeuta vai permitir ao paciente falar e ser reconhecido, e ao terapeuta compreender a mensagem.”

            Escutar sem julgar, apenas procurando ouvir e entender o que está sendo dito em palavras ou gestos para poder ajudar seu paciente a se ajudar.
[ Texto com registro na Fundação Biblioteca Nacional ]

Referências:
Ø BOSSA, Nadia A psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática Porto Alegre: Artmed, 2007
Ø FERNANDES, Alícia. A inteligência aprisionada: abordagem psicopedagógica clínica da criança e sua família./ Alicia Fernández; tradução Iara Rodrigues. –Porto Alegre: Artes Médicas, 1991
Ø FERNÁNDEZ, Alícia. Os idiomas do aprendente: análise de modalidades ensinantes em famílias, escolas e meios de comunicação / Alícia Fernández; trad. Neusa Kern Hickel e Regina Orgler Sordi. – Porto Alegre: Artmed Editora, 2001
Ø MIRANDA, Clara Feldman de Construindo a relação de ajuda/ Clara Feldmann de Miranda, Márcio Lúcio de Miranda. 11ed. Belo Horizonte: Crescer, 1999

3 comentários:

  1. Muito bom! parabens pelo blog!!!!

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  2. Texto bem escrito: objetivo e claro!

    Bjs!

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  3. APRENDI UM POUCO MAIS COM SEU TEXTO. PARABÉNS ! MUITO BOM, CLARO E BEM OBJETIVO.
    SE AS PESSOAS GOSTASSEM DE LER,MAS DE LER O QUÊ DE BOM ESTÁ AO SEU ALCANCE,COM CERTEZA SEUS HORIZONTES SERIAM MAIS AMPLOS E A CAPACIDADE DE RACIOCÍNIO SERIA MAIS ABERTA E FÁCIL.

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