21 de mai. de 2014

LAÇOS DE "FAMÍLIA"

Há muitos anos conheci um homem que tinha dois filhos: uma menina de 16 anos e um menino de oito. A mãe dessas crianças havia morrido em um acidente de carro quando Júnior, o filho mais novo, ainda era um bebê. Dois anos após a morte da sua esposa, ele casou-se novamente, separando-se dois anos depois ao descobrir que seus filhos, principalmente a Cristina que, à época estava com 12 anos, era constantemente maltratada: tanto física como psicologicamente pela madrasta.
Então, após três anos do ocorrido, eu o conheci. E também os seus filhos. Rodrigo era um homem bonito, educado e muito gentil além de parecer um pai muito dedicado. Começamos a sair, a namorar e em pouco tempo estávamos passando os finais de semana e férias de final de ano juntos. Mas o foco desse meu escrito não é Rodrigo, mas sim a relação entre a sua filha adolescente e eu.
Júnior quando me conheceu foi amor à primeira vista. Logo que me via corria a me abraçar e contar as novidades da sua escola, dos seus amigos ou alguma aventura sua. Algumas vezes gostava de fazer de conta que eu era a sua mãe.
Com Cristina foi justamente o oposto: Virava a cara pra mim, discordava de tudo o que eu falava e constantemente me agredia verbalmente e ao seu pai, quando estávamos juntos. Talvez por eu conhecer tudo o que ela já tinha passado, só conseguia sentir carinho por essa menina. E tentei muitas vezes o diálogo, um olhar afetuoso... mas nada.
O ápice desse nosso relacionamento ‘madrasta-enteada’ deu-se durante um passeio de fim-de-semana na praia de Tramandaí: Eu tinha visto um vestido indiano de cor azul e me apaixonado por ele. Rodrigo não pensou duas vezes em comprá-lo para mim. Ao chegarmos ao hotel, Cristina foi até o meu armário e, com uma tesoura, o rasgou todo.
Quando entramos no quarto e vimos meu vestido totalmente rasgado e jogado no chão, Rodrigo gritou ferozmente pelo nome da filha, que estava no quarto ao lado. Como ela não apareceu, Rodrigo foi até o quarto dela e a trouxe na marra. Já em nosso quarto Rodrigo, muito alterado e apontando pro vestido rasgado, perguntou o que ela tinha a dizer sobre isso. Ela afirmou que rasgou o vestido, sim e que não estava nada arrependida porque sabia que eu só queria era roubar a família dela, me fazendo de boazinha.
Enquanto eles brigavam, eu olhava tudo atônita, sentindo por Cristina uma mistura de raiva pelo vestido rasgado e uma espécie de compaixão por tudo o que ela estava sentindo.
Num determinado momento dessa discussão entre eles, Rodrigo dá um tapa no rosto da sua filha. Ela em prantos responde que a culpa é toda minha e, se dirigindo ao seu pai, diz que se ele quiser que fique comigo, pois ela vai embora. Ele responde que ela vá, então. Ela, chorando e visivelmente magoada sai do quarto. Eu, sem conseguir dar uma palavra e me sentindo culpada e triste por provocar sentimentos tão negativos em alguém.
No dia seguinte, durante o café da manhã, nenhuma palavra. Até mesmo Junior que adorava um papo à mesa ficou calado. E como o dia estava chuvoso, permanecemos no hotel. Júnior foi brincar com um grupo de amigos na sala de jogos, Rodrigo decidiu que iria nadar na piscina do hotel e Cristina foi pro seu quarto. Pensei um pouco e decidi que precisava conversar com Cristina, que precisa ao menos tentar colocar os pingos nos ‘is’.
A porta do quarto estava entreaberta e a encontrei chorando. Pedi licença e disse que precisava conversar. Ela apenas me olhou. Comecei falando do meu desejo de formar uma família, de como seu pai sempre falou com carinho dos seus filhos para mim e de como isso me encantou nele. Falei que conhecia um pouco da sua história e sentia, sinceramente por isso...
De repente, enquanto eu falava com ela, minha voz falhou e eu comecei a chorar. Nesse exato momento eu vi no olhar de Cristina algo parecido com ternura. Ela se aproximou de mim e, envergonhada, me pediu desculpas. Eu apenas abri meus braços enquanto a olhava. Ela me abraçou e novamente se desculpou. Tempos depois ela me confessou o que eu já havia percebido: Ela disse que sentia algo parecido como um medo de gostar de mim e ser magoada como aconteceu anteriormente com a ex-mulher do seu pai. A partir desse episódio nossa relação tumultuada se transformou completamente e nós nos tornamos grandes amigas e confidentes.

Meses depois Rodrigo e eu terminamos nosso namoro por motivos que não vem ao caso nesse momento, mas que daria uma nova e boa história. Porém, Cristina e eu continuamos muito apegadas e nos falando quase diariamente, até hoje. 

7 comentários:

  1. Adorei ler essa história de amor familiar
    Realmente o amor vence tudo.

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  2. Rejane,
    primeiro quero te agradecer pela visita ao meu blog, e depois te dizer que eu não sabia que tu tinhas um também :)

    Muito interessante teu texto e confesso que fiquei na dúvida se é ficção ou realidade... enfim. De qualquer forma o argumento é que se faz mais importante, e o tanto que os laços familiares podem ficar abalados com as perdas e os acréscimos de outras pessoas nessa relação. Mas sempre haverá espaço ao diálogo e à tentativa de dar certo, e pelo que entendi, foi o que aconteceu.
    Muito bem-escrito!

    Beijos!

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  3. Olá Rejane!
    Opa valeu por curtir o blog!

    Nossa, mas que linda essa parte de sua história. Meus pais também são divorciados mas graças aos deuses sempre me dei super bem com meu padastro e ele comigo, o vejo quase que como um segundo pai.
    Foi muito bonito como você e sua enteada se entenderam. Não conhecia seu blog, agora lerei os outros posts!

    Espero contar com sua presença neles outras vezes!
    bjs

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  4. Olá Rejane!
    Opa valeu por curtir o blog!

    Nossa, mas que linda essa parte de sua história. Meus pais também são divorciados mas graças aos deuses sempre me dei super bem com meu padastro e ele comigo, o vejo quase que como um segundo pai.
    Foi muito bonito como você e sua enteada se entenderam. Não conhecia seu blog, agora lerei os outros posts!

    Espero contar com sua presença neles outras vezes!
    bjs

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  5. Bonita história que li com muito interesse,
    Beijo e boa semana
    Graça

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  6. Muito linda essa história.

    :)

    Emocionei.

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  7. Quanta ternura nessa história!
    Adorei ter lido. Delícia mesmo
    Bjsinho

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